eu odeio vizinho

Talvez não seja a forma mais simpática de começar uma postagem, uma relação condominial ou um primeiro cartão de visitas caso alguém vá procurar seu nome no google. A questão é que eu sou uma pessoa um pouco tímida, reservada e não gosto muito de conversa de corredor ou de comentar os problemas cotidianos de uma vida coletiva empilhada.

Sempre fui ensinado em casa (meu pai ainda segue essa disciplina com maestria) de que vizinho e pra dar bom dia, boa tarde e boa noite. E deu. Essa escola de saber dá a tranquilidade de não ver a sua campainha ser violada a qualquer hora do dia por pessoas sedentas por conversa, resolução de problemas comunitários ou confissões de crimes.

Só que agora a gente tem uma vizinha que não nos deixa cumprir a regra de ouro da escola do condômino invisível. Ela toca a campainha, entra no apartamento de pijama, fala alto de tudo que ela vê no prédio que julga ser errado, menciona vizinhos de porta e suas incorreções éticas e morais como se fosse uma microfonia incontrolável, manda mensagens pelo whatsapp.

Só que tudo que relato como defeito é na verdade inacreditavelmente maravilhoso. O que era para ser perturbador e incomodativo se tornou como a observação de um fenômeno da natureza. Você não pode controlar o tamanho de uma onda, a força de um terremoto… você só observa. E é isso que estou aprendendo a fazer.

O casal de bem-te-vi que me impede de abrir as janelas (eles tentam arrancar a cabeça dos meus gatos a cada encontro) tem sido mais incomodativo do que uma relação que aprendi a odiar. No fim é a mesma coisa: não se pode brigar ou lutar contra a natureza. É deixar a janela fechada e aceitar que os gritos sempre estarão por perto. E está sendo divertido.

Deixe um comentário